Entrevista
Maycon Fontoura
Produtor executivo da HK Entretenimento fala sobre as oportunidades para o setor de licenciamento no teatro
Nascido em uma família de produtores, Maycon Fontoura sempre esteve envolvido com shows. Seu primeiro trabalho se deu com a vinda do Grease ao Brasil, quando o menino descobriu sua paixão pelo teatro. “Aos 15 anos, conheci o teatro e meus olhos brilharam, ao ver o público vibrar com o que os atores faziam em cena. Assim, me especializei e montei a companhia Holi Kids Entretenimento há 10 anos.” Responsável por grandes produções com personagens licenciados, Maycon esclarece as possibilidades oferecidas aos proprietários de marcas nos palcos.
Revista Licensing Brasil – O que o motivou a desenvolver espetáculos teatrais, conforme um modelo de licenciamento de personagens?
Maycon – O licenciamento é um trabalho profissional e sofisticado desenvolvido por pessoas que prezam muito por suas marcas. Sendo bem sincero, é uma sociedade dificílima de se integrar. Meu projeto sempre foi o licenciamento, o que faltava era uma oportunidade. Conheci inúmeras companhias que desenvolviam montagens próprias e não pagavam royalties. Em muitos momentos, isso lhes trazia problemas. As marcas chegavam até essas companhias uma vez ou outra. Assim que conheci o universo de shows infantis, na ânsia de produzir um espetáculo argentino, fui até o produtor e ele me disse que pessoas como eu deveriam mesmo ficar na pirataria. Afinal, eu morava numa cidadezinha de interior e teria de me esforçar muito para ter um contato com alguém que trabalhasse com produções internacionais. O que escutei foi forte e desencorajador, mas também um divisor de águas em minha vida: separou o último dia do meu trabalho e o primeiro dia da minha carreira. Produzimos, montamos, criamos muitas produções, tentamos contato com as marcas e fomos ignorados. Então, montávamos o show mesmo sem a autorização e chegamos a ficar entre as maiores companhias que produziam peças de teatro “genéricas”. Mas isso não me deixava feliz, pois tínhamos um padrão de qualidade extremamente alto para o que fazíamos. Muitas vezes, nossos fornecedores eram os mesmos fornecedores de produções oficiais. Pagávamos mais caro para ter qualidade e vendíamos a preços populares. Uma vez isso parou de dar certo. Um conhecido da área de licenciamento, o José Henrique da Dogs Can Fly – a quem sou muito grato e de quem me tornei um grande amigo – me estendeu a mão e disse: “Você precisa apenas fazer o que sabe, só que do lado certo”. Pela primeira vez, uma marca famosa estava me dando a oportunidade de entrar para o time do licenciamento. Agarramos a oportunidade com todas as forças e, depois disso, nosso portfólio só cresce. Licenciamos o espetáculo Masha and the Bear no dia 15 de novembro de 2017. No primeiro M&G da Holi Kids, tivemos cerca de 15 mil pessoas. Com isso, o evento precisou durar quase uma semana.
LB – Paralelamente ao teatro, costumam desenvolver outras ações complementares com os parceiros?
Maycon – Temos uma equipe de merchandising que, inclusive, dá workshops e cursos para outras licenças que estão entrando no ramo de shows e produtoras de espetáculos. Temos algumas equipes de meet & greet, formada muitas vezes pelos próprios atores que fazem nossos espetáculos, quando estão no MG trabalham exatamente como quando estão em cena. Este é um dos grandes diferenciais do nosso serviço. Também produzimos outras ações solidárias, tais como visitas a hospitais e orfanatos, ONGs voltadas para crianças especiais e em estado de risco. Este é um trabalho desenvolvido com muito amor.
LB – Qual a principal dificuldade no combate às produções piratas?
Maycon – Em nossa primeira franquia, procuramos 90% dos produtores piratas do Brasil da época e propusemos a eles mudarem de lado. Fizemos uma proposta de trabalharmos em equipe para serem nossos correspondentes locais, mas nem todos nos deram ouvidos. Para lançar o primeiro projeto, passamos em torno de 6 meses comunicando todas as casas de shows e teatros para que não aceitassem pedidos de datas para espetáculos que não fossem propostos por nossa equipe. Explicamos que éramos donos das propriedades para teatro e barramos todos os shows. Isso gerou um grande prejuízo para a pirataria e algumas represálias. Hoje, já superamos essa fase. Na minha opinião, o maior problema no combate à pirataria são as marcas que a permitem ou que não fazem um trabalho de proteção, pois acabam abrindo portas para que produções piratas viagem o Brasil. Com isso, deixam de arrecadar os royalties e de produzir com qualidade. Já ouvi nesse meio que a obrigação de proteger a marca é do dono da propriedade, mas discordo. A obrigação é de todos. Quando existe um show pirata de uma determinada marca e ele chega a ser apresentado, a falta de qualidade promove um êxodo do público que assiste infantis. Os pais ainda não sabem diferenciar o espetáculo que tem licença e o que não tem. Estou protegendo meu investimento ao fazer o combate na minha área. Esse não é um trabalho barato, criamos um departamento jurídico extremamente complexo. Nossa advogada, chefe do setor, coordena cerca de doze estagiários a todo vapor durante a semana, procurando pirataria. Ela ainda coordena outros advogados exclusivos que fazem diligências nos quatro cantos do Brasil. Temos também correspondentes que já são nossos parceiros em muitas regiões. Apesar de ser um dos setores mais caros da companhia, ele se paga porque mantém viva a propriedade para teatro.
LB – Desde então, cerca de quantos espetáculos já foram produzidos? Como se desenvolve o processo entre a sua equipe e o estúdio/dono do personagem?
Maycon – Live show não é um artigo de varejo – como envolve criação de conteúdo, torna-se um produto que dificilmente é aprovado localmente; precisa ser liberado pelas equipes de aprovação e de criação da própria marca. Isso estreita muito nosso relacionamento com eles e os faz estar permanentemente presentes em nosso trabalho. Desde o começo até hoje, já contamos com 14 licenças e cerca de seis live shows oficiais construídos.
LB – Por que o teatro é um ponto de contato importante entre os fãs e os personagens?
Maycon – O teatro torna-se a menina dos olhos das marcas porque ativa de forma direta o contato dos personagens com os fãs. Depois que uma marca já atingiu a maturidade no mercado, naturalmente gera a necessidade do personagem estar frente a frente com seu público.
Para conferir na íntegra, acesse a edição virtual completa: http://www.epgrupo.com.br/revista-licensing-brasil-65/
Fonte: EP Grupo – Revista Licensing Brasil Jul./Ago. 2019 – Por Kika Martins.