Exposição principal aborda temas contemporâneos e históricos que reafirmam o futebol como parte da identidade nacional
Uma história viva, que apresenta o futebol como parte inseparável da identidade cultural brasileira. A partir de 12 de julho será possível vivenciar esse novo e emocionante capítulo do Museu do Futebol – instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo. Renovado para ser mais diverso, inclusivo e ainda mais divertido, o museu dedicado ao fascínio pelo esporte ganhou novos conteúdos e salas, mais recursos de acessibilidade, itens raros e curiosos, vídeos, fotos e atrações inéditas.
As obras do novo Museu do Futebol começaram em novembro de 2023, mas a concepção do projeto teve início há mais de dois anos. As discussões e empenho de múltiplas equipes envolveram o licenciamento de mais de 1,5 mil imagens, a criação, revisão e tradução de 136 novos textos, produção de mais de 60 vídeos e aquisição de centenas de equipamentos – entre computadores, monitores, câmeras e projetores. Profissionais de pesquisa, audiovisual, expografia e comunicação participaram do projeto coordenado pelos curadores Leonel Kaz, Marcelo Duarte e Marília Bonas. A iniciativa teve direção artística e projeto expográfico de Daniela Thomas e Felipe Tassara e comunicação visual de Jair de Souza.
“A reabertura do Museu do Futebol celebra nossa rica história futebolística e abraça a diversidade e a inclusão. Este espaço renovado oferece uma oportunidade única para todas as gerações se conectarem com as raízes do esporte que molda nossa identidade nacional. Com novas tecnologias, experiências interativas e uma maior representatividade do futebol feminino, o Museu se torna um ponto de encontro para todos que compartilham a paixão pelo futebol e pela cultura brasileira”, ressalta a secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Marília Marton.
O projeto recebeu investimento total de R$ 15,8 milhões da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo, e por meio do patrocínio do Banco Bmg e do Grupo Globo; e apoio da Goodyear, Sabesp, Adidas, Rede, Mercado Livre, Farmacêutica EMS, Cabot e Arkema – todas através da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.
“É um investimento importante do Governo de São Paulo e dos patrocinadores para a cultura, proporcionando a atualização e renovação deste museu muito querido da população paulista e muito visitado por turistas nacionais e internacionais”, diz Renata Motta, diretora executiva do Museu do Futebol.
Entre 2022 e 2023, o Museu do Futebol recebeu mais de 675 mil pessoas. Desde a inauguração, em 2008, a instituição já somava mais de 4,7 milhões de visitantes. “Estava tudo certo, o público continuava visitando e gostava, mas o futebol e a sociedade mudaram muito desde a abertura da instituição, em 2008, e sentimos a necessidade de incorporar essas transformações”, explica Marcelo Duarte. “Também tínhamos o desafio de atrair o público jovem que, em geral, ainda enxerga os museus como um reduto de antiguidades”, completa.
Para encarar o desafio, o trio de curadores formou conselhos com personalidades ligadas ao esporte; um grupo de jovens e a própria equipe técnica da instituição contribuíram com sugestões. A partir dessa troca de ideias o projeto ganhou corpo. “Mantivemos o espírito do Museu e incorporamos tecnologias e experiências para deixá-lo ainda mais moderno e atraente para todos os públicos”, conta Marcelo.
Experiências inéditas
Entre as novidades do Museu está a Sala Raízes. Mais de 100 fotografias e um filme produzido pelo cineasta Carlos Nader podem ser conferidos no espaço, que possui um telão multimídia composto de 17 monitores. “É um grande mergulho histórico e apaixonante pelo período em que o Brasil elevou o futebol a um valor cultural muito significativo”, descreve o curador Leonel Kaz.
“A Sala Raízes mostra a celebração do povo brasileiro, entre as décadas de 1930 e 1950, quando o Brasil olhou para si e surgiram valores novos da cultura nacional – na pintura com Portinari, na literatura com Drummond, assim como na música, no teatro e outras importantes manifestações”, completa. Com interatividade e tecnologia, o novo espaço oferece uma experiência que ressalta como o futebol transcende as fronteiras do esporte para se tornar um fenômeno cultural.
Gol da igualdade
A Sala das Origens, que conta a trajetória do esporte desde o século XIX e segue até os anos 1930, é um dos espaços reformulados que passa a contemplar com mais ênfase o futebol feminino. Entre os grandes marcos dessa história está o decreto assinado por Getúlio Vargas, em 1941, que vetou a prática da modalidade por mulheres. A justificativa era de que o esporte seria “incompatível com as condições de sua natureza”. O veto durou quatro décadas.
As primeiras informações sobre o futebol de mulheres foram incluídas na exposição principal do Museu em 2015. Agora, no percurso atualizado, há mais conteúdos inéditos coletados e cedidos por jogadoras, técnicas e jornalistas esportivos.
A curadora e diretora técnica Marília Bonas explica que o Museu é hoje um hub do futebol feminino e está em equilíbrio com o que a instituição oferece sobre a modalidade masculina. “O empenho em trazer à tona a história do futebol de mulheres e de jogadoras como Marta e Formiga tornou o Museu uma das fontes de pesquisa mais abundantes sobre o tema”. Na exposição renovada, foram incluídas na Sala das Origens imagens raras que mostram mulheres brasileiras jogando futebol a partir de 1920 – por enquanto, os registros mais antigos de que se tem notícia.
Na Sala das Copas, por exemplo, o futebol feminino ocupa quatro módulos – Defesa, Drible, Contra-Ataque e Gol – que exaltam a história e a resistência femininas entre 1941 e 1988 – período que vai da proibição da modalidade até a realização do Primeiro Torneio Experimental da China, em 1998, que antecedeu a criação oficial da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino. Além disso, foram incluídas na Sala todas as Copas femininas desde 1991, junto com as masculinas. “Nesta sala, uma das mais queridas do público, incluímos imagens inéditas, pesquisadas e cedidas por pioneiras do futebol feminino no Brasil”, conta Marília.
Outra novidade é um vídeo protagonizado pela jogadora Marta. Projetada em uma tela de tamanho natural, a rainha do futebol se despede do público ao fim do percurso de visitação. Em português, espanhol e inglês a atacante convida todos a retornarem e, por fim, agradece na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A projeção é como um espelho do vídeo de boas-vindas com Pelé, na entrada do Museu, desde a inauguração em 2008.
O Pelé que nos habita
A nova Sala Pelé é totalmente dedicada ao Rei do Futebol e promete emocionar quem o viu jogar e surpreender aqueles que não tiveram essa oportunidade. Considerado o atleta do século XX pelo Comitê Olímpico Internacional, sua trajetória é contada com imagens cativantes do jogador. A curadoria explora ainda a relação do rei com outros jogadores em campo. A camisa vestida por Pelé na final da Copa de 1970 contra a Itália ganha a companhia de outro exemplar raro – o uniforme usado pelo jogador em uma partida em homenagem à rainha Elizabeth II, da Inglaterra, pela Seleção Paulista.
Para o curador Leonel Kaz, a sala é um dos pontos altos da nova experiência. “Faz meio século que ele parou de jogar e segue muito significativo na memória brasileira do futebol, pois o Pelé nos habita, representa o desejo, o instinto, uma forma de alcançar uma vitória, em todos os sentidos”.
Experiências futebolísticas
Os visitantes do Museu do Futebol encontrarão possibilidades interativas e gameficadas na nova sala Jogo de Corpo. As atividades, por meio da movimentação corporal, exploram elementos de uma partida de futebol como a troca de passes, precisão e velocidade. “Essa sala já existia, mas ganhou atenção especial e foi aprimorada”, conta Marcelo Duarte. “Percebemos que atividades como o Chute a Gol agradavam e isso nos levou a propor outras práticas futebolísticas”, explica o curador. “É um momento para descontração, de interação entre a família e os amigos”.
Em parceria com a Globo, a Sala Dança do Futebol permite aos visitantes escolher vídeos que documentam situações memoráveis do futebol brasileiro. Gols históricos, comemorações inesquecíveis, defesas e dribles que desconcertam o adversário são parte do menu. “Cabiam outros gols no Museu e essa sala vai apresentar muitos deles, de um jeito diferente, moderno e lúdico. O público vai conferir jogadas espetaculares”, observa Marcelo. As jogadas incríveis vêm de diferentes estados brasileiros, tanto de campeonatos masculinos quanto de femininos.
O seu, o meu, o nosso Pacaembu
Um dos palcos mais importantes do futebol nacional, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, que celebrou 84 anos em abril, não poderia ser esquecido no processo de renovação do Museu. “Agora contamos a história do estádio da forma como ele merece”, celebra Marcelo Duarte em referência ao espaço intitulado Almanaque da Bola.
A sala reserva um vídeo especial de nove minutos sobre o estádio, além de maquetes táteis e assentos extraídos do Pacaembu. Outra curiosidade que anima os envolvidos no projeto é a reabertura das portas que conectam o Museu ao gramado do estádio, permitindo o acesso e a contemplação por visitantes.
Almanaque da Bola substitui a antiga sala Números e Curiosidades, agora com novas tecnologias e interação, como desafios e testes sobre temáticas relacionadas a questões contemporâneas do esporte, como visibilidade das modalidades adaptadas para pessoas com deficiência e o problema do racismo. Informações em linguagem simples e visualmente atraentes são oferecidas com recursos de acessibilidade.
Outra novidade é que as ilustrações da Almanaque passam a representar homens e mulheres, de diferentes tons de pele. De acordo com a curadora e diretora técnica Marília Bonas, esse processo indica uma mudança de paradigmas. “Antes, a comunicação visual trazia apenas imagens de homens, em preto e branco. Eram os mesmos corpos, como se fosse um padrão. Nessa renovação temos outras cores, silhuetas, diferentes gêneros, pessoas com deficiência… Afinal, o futebol é para todas e todos”, afirma.
Nova geração
A história recente do futebol brasileiro é abordada na instalação O Brasil no Mundo. Vídeos com depoimentos de jogadores que passaram por clubes fora do país mostram como os brasileiros são reconhecidos no exterior. “Mostra como o Brasil tem exportado ‘pé de obra’ para diversos países”, explica Duarte.
Alguns visitantes solicitavam mais objetos na exposição, mesmo sendo o espaço majoritariamente dedicado a acervos audiovisuais experiências interativas. O pedido foi atendido. “Temos uma vitrine que será modificada de tempos em tempos com peças significativas. Iniciamos com a chuteira que o Neymar usou em 2016 e uma medalha de ouro de Mizael Conrado, do futebol de 5, modalidade praticada por pessoas com deficiência visual”.