É preciso que os pais tenham disposição para o diálogo e também para a escuta
O Brasil vive um momento de polarização política e sucessivos escândalos de corrupção em sua história. Com a pandemia do novo coronavírus, as crianças estão em casa, portanto, mais suscetíveis a ouvir conversas dos pais sobre o tema ou a assistir ao noticiário.
Diante deste cenário, é inevitável que sintam curiosidade em saber um pouco mais sobre o que é a política e o que significa corrupção, termos repetidos tantas vezes em casa e pela imprensa.
São os brasileiros com mais de 18 anos que têm a obrigação de se dirigir às urnas, conforme determina a Lei eleitoral, porém, a participação dos pequenos na vida política é garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Sendo assim, qual a melhor maneira de tratar do assunto em casa sem impor uma ideologia às crianças? Falar muito cedo de temas como democracia e corrupção pode ser prematuro e desinteressante. Normalmente, crianças a partir de 7 ou 8 anos já conseguem entender melhor o que é política e algumas até se manifestam.
“Talvez a melhor maneira seja ouvir o que as crianças já demonstram saber sobre o tema, quais as impressões que elas têm. Dessa forma, o adulto consegue perceber como elas estão construindo o conceito de política, de participação e qual definição trazem para corrupção”, esclarece a coordenadora pedagógica da educação infantil e ensino fundamental – anos iniciais do Colégio Marista Glória, localizado em São Paulo (SP), Claudia Ayres Paschoalin.
Nesse processo de escuta, de conversa informal, já se consegue perceber o quanto o senso comum e as informações veiculadas pela mídia impactaram o pensamento infantil. A partir daí, é possível promover uma reflexão sobre atitudes, valores humanos e expectativas que se depositam sobre as pessoas que se dispõem a governar.
“Essa reflexão deve ser feita na linguagem da criança, sem grandes discursos, na medida do que a curiosidade demanda. A família pode ajudá-la a entender, de uma forma simples, como deveriam funcionar as relações políticas e quais as possíveis causas de uma atuação distorcida”, avalia Claudia.
É evidente que as posições políticas da família sempre acabam, de alguma forma, influenciando as crianças. Ainda assim, é importante introduzir o assunto de forma sucinta e aprofundar conforme eles vão demonstrando interesse.
Respeitar as diferenças é parte da educação
Não é necessário explicar o que é uma CPI e o que faz um Deputado Federal e um Senador. Os pais podem falar aos filhos dando exemplos de atitudes erradas do dia a dia, ressaltando a importância de viver a vida dentro de valores como a honestidade, por exemplo.
Uma sugestão é exemplificar para as crianças que, no cotidiano, há exemplos de corrupções como furar uma fila, pegar objetos do colega ou não pagar o lanche da escola. “As crianças devem compreender que a falta de honestidade não ocorre apenas na política, mas está presente em atos cotidianos, praticados por pessoas de qualquer idade”, explica Claudia.
Para a discussão ser saudável é preciso sempre respeitar a opinião do outro. O uso de analogias é um recurso que pode ajudar, pois a realidade política fica mais próxima da que as crianças vivenciam.
“Como educadores, cabe a nós proporcionarmos vivências políticas dentro do ambiente escolar. Fazer política é inerente às relações humanas e ao convívio social. Entender o verdadeiro sentido da atuação política, aquela que intenciona o bem comum, pode ser aprendido por meio das eleições de representantes de turma, da composição de um grêmio estudantil e das decisões assumidas em assembleias constituídas por representantes da comunidade escolar”, esclarece a coordenadora.
Ainda segundo a docente, “somos seres políticos, vivemos em sociedade e precisamos aprender a conviver socialmente com empatia, respeito e tolerância. É muito saudável que os pais falem diretamente de política com crianças”, frisa.
De acordo com a coordenadora, os adultos precisam criar condições para se tornarem exemplo de uma conduta ética, apontando caminhos de retidão reforçados na convivência, nas decisões e posturas frente à vida e aos desafios que se apresentam.
“Devem enaltecer a importância daquilo que não se pode comprar com o dinheiro, como a consciência tranquila, a família, a saúde e os amigos”, finaliza.