A digitalização dos pequenos varejistas, lojas com ambientes mais claros e abertos, cuidados redobrados com a limpeza, a despedida dos caixas e as boas-vindas definitivas aos check-out são algumas das transformações do varejo para depois da pandemia, apontadas por Ana Costa, diretora de acadêmico e conteúdo da Abiesv (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo).
Até o começo deste ano, 90% dos pequenos negócios não tinham presença digital, conforme indica dados do IMEI – Inteligência de Mercado. “A primeira grande lição que servirá de base para o mundo pós-crise: as empresas terão que ser digitais”, afirma Ana.
A Abiesv lançou a iniciativa Apoie o Pequeno, uma loja virtual gratuita para que os pequenos negócios possam comercializar seus produtos. “Percebemos que muitos consumidores também estão quebrando a resistência de comprar pela internet”, completa a especialista em trade marketing, visual merchandising, comportamento de consumo e gestão de PDV.
Segundo conta, o varejo já está repensando o conceito de loja. Os pontos de venda devem acompanhar o fato de o consumidor brasileiro estar passando por um anseio de sensação de limpeza, por isso os novos projetos devem ter muito vidro, cores claras, em lojas mais abertas e arejadas.
“As redes com lojas que usam a cor escura já estão se redesenhando, como a Starbucks. A presença de plantas, o verde interferindo no cinza da urbanidade e ampliando o processo de humanização, tendência apresentada na Euroshop, deve intensificar ainda mais. Também já está acontecendo a retirada da madeira, que muitas vezes era um item original de um projeto.”
Na visão de Ana, as mudanças de hábito já estão acontecendo. O uso contínuo de máscara como os orientais, o não compartilhamento de objetos de uso pessoal como celular, caneta e laptops.
“Como consequência disso tudo, por exemplo, os supermercados não devem oferecer aquela boa degustação do produto, pelo menos não tão cedo, e as lojas de moda terão que tomar mais medidas para que o consumidor não tenha receio de experimentar as roupas e sapatos expostos para compra. Talvez uma das soluções possa ser as duchas de vaporização na entrada do provador.”
Neste contexto, outra questão que a especialista acredita que irá mudar é com relação aos caixas das lojas. “O consumidor não vai querer ficar na fila, se preocupando em manter distância. Os estabelecimentos precisarão se informatizar, o caixa vai acabar e o checkout e o pagamento por celular vão entrar com tudo.”
Conforme conta, em um de seus atuais projetos para um minimercado, Ana incluiu algo que antes da pandemia nem tinha pensado: uma pia para que clientes fiquem à vontade se quiserem lavar as mãos, ao transitar pelo estabelecimento.
A situação atual também está gerando uma maior valorização do pequeno empreendedor, daquela loja de bairro. “Algumas padarias, como as do Butantã, estão com funcionários de bike vendendo pão, passando pelas ruas pela manhã e no final de tarde. É o comércio local colaborando com os moradores.”
“Da mesma forma que a caminhonete de frutas, que traz tudo até você. Isso está mudando a forma de consumo, e dando a sensação de um retorno ao passado, quando nos sentíamos mais protegidos e seguros”, afirma.
A especialista acha que após as pessoas montarem toda essa infraestrutura confortável, de ter os produtos às mãos, provavelmente, vão preferir manter.
Enquanto o comércio total não volta, a diretora da Abiesv acredita ser o ideal as marcas usarem seu conhecimento para informar, compartilhar conteúdos e ter iniciativas de empatia em torno do cliente, criando conexões virtuais. Enfim, posicionar-se como auxiliador e com espírito colaborativo.
O momento está fazendo com que o consumo se torne mais consciente. “A compra por impulso já vinha em decadência e tende a diminuir mais. Para o início, a projeção é de que as vendas retomem com uma queda considerável. E as redes que perceberam que podem fortalecer o e-commerce, reduzir sua presença física em quantidade, mas ampliar em qualidade, sem perder resultados, podem ter incremento nas vendas.”
Outra previsão da especialista é de que, agora, ao invés de planejamentos anuais e revisões trimestrais, serão feitos planejamentos trimestrais e revisões diárias. “Mergulhamos no mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade) definitivamente”, conclui.