Disney+: plataforma deve ocupar a segunda posição no Brasil

O mercado brasileiro já aguarda com expectativa o lançamento da plataforma de streaming

Crédito: Reprodução.

Consultores e analistas do mercado consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmam que a chegada da nova plataforma será positiva para o consumidor, e apostam que o serviço vai ocupar, rapidamente, o segundo lugar de assinaturas entre os disponíveis no País, ficando atrás apenas da líder no segmento, a Netflix.

Com uma estratégia um tanto agressiva de retirar o conteúdo próprio – e da Marvel, Pixar, Star Wars e National Geographic – de todas as outras plataformas de streaming, a Disney tem um ponto de partida mais favorável que as outras concorrentes justamente por já ter um catálogo robusto e amplamente conhecido. Novos lançamentos de cinema também já estão planejados para a plataforma – o inédito Mulan, por exemplo, estreia diretamente na plataforma aqui em 4 de dezembro.

O presidente da Disney para a América Latina, Diego Lerner, já afirmou que o conteúdo local será produzido, com atores e diretores brasileiros, com investimento em séries e filmes, o que não deixa de ser uma notícia animadora para o mercado audiovisual brasileiros.

“Há muitas conversas nesse sentido porque o mercado deu uma parada com o Fundo Setorial do Audiovisual e a Ancine travou as verbas”, explica a CEO e fundadora do grupo Stenna, Carolina Vargas, há 15 anos trabalhando com produtoras e distribuidoras de conteúdo de entretenimento. “A Disney não precisa de Fundo Setorial para levantar produções originais. Mesmo assim, vai levar uns dois anos para conteúdos locais novos chegarem à plataforma. Assim, vejo um crescimento grande no lançamento, mas não sei se sustenta a subida crescente que eles estão planejando.”

A subida crescente se refere à grande adesão que a plataforma da Disney teve nos Estados Unidos e em outros 28 países. Em menos de um ano, já são 60 milhões de assinantes, segundo a empresa – para comparação, a Netflix possui cerca de 190 milhões em 190 países.

Tecnologia: A visão de Lerner concorda com a de analistas que afirmam que o brasileiro tem uma alta adesão à tecnologia, mesmo tendo saído atrás de países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e os países da Oceania

“Tecnologicamente, o Brasil é um dos públicos que mais tem aderência ao consumo de conteúdo”, explica a consultora estratégica de entretenimento e conteúdo Patricia Weiss, há 20 anos envolvida na discussão. “Não importa se vai acumular uma série de assinaturas. Quem tem o mínimo de poder aquisitivo, vai assinar. O consumidor brasileiro vai pagar ainda menos do que com a TV a cabo, que ainda é muito cara. Daí o movimento nos últimos anos de transferência de conteúdo para as plataformas digitais.”

Carolina, porém, se diz preocupada com a entrega do produto ao cliente final, uma questão com que a Netflix, por exemplo, lida há quase 10 anos no Brasil. “Para entregar o conteúdo regional, fora dos grandes centros, é necessário um fluxo de internet considerável. Alguns serviços já em atuação, por exemplo, não funcionam direito no Nordeste. A Disney vai precisar desse fluxo. Quem entrega é o provedor regional, que são concorrentes diretos das plataformas, porque vendem conteúdo de programação para a região. O que eles fazem então? Eles bloqueiam o tráfego de outras plataformas.”

Para ela, a experiência final do consumidor vai ser diferente em cada região. “Os serviços regionais estão crescendo. São mais de mil cidades em que as grandes operadoras de internet compram ou alugam banda dos provedores locais, que por sua vez, quando juntos, detêm uma participação de mercado que chegou a quase 40% em agosto, incomodando as grandes.”

A relação custo-benefício da qualidade de internet é outra questão, aponta Patrícia. Em comparação a outros mercados, o tráfego de dados ainda é muito caro no País. “O Brasil apresenta qualidade de tecnologia diante de muito dinheiro do consumidor. Acredito muito que o Brasil precisa evoluir nessa relação de custo-benefício. Quanto mais empresas como a Disney em atuação, melhor para o brasileiro. Porque essa presença também desenvolve critérios no mercado e no consumidor. Se cada vez mais ele vê coisas diferentes, cada vez mais ele vai escolher melhor.”

Catálogo: A força da marca Disney também é um trunfo em relação aos concorrentes, até porque são décadas e décadas de construção de imagens, conteúdos, entretenimento dentro e fora dos cinemas e das telas. Mesmo assim, a concorrência, puxada pela Netflix, antecipou o momento em que as grandes empresas, como a Disney (mas também a Warner, por exemplo), ofereceriam suas plataformas próprias de streaming, e passou a investir pesado em produção própria. Muitas das melhores séries contemporâneas são produzidas diretamente para a internet, como Fleabag (Amazon), The Crown (Netflix), The Morning Show (Apple TV+) e outras. Esse movimento suaviza o impacto da retirada de conteúdos, segundo fontes.

“Quem mais sofre ameaça no momento é a TV por assinatura, porque olhando para o preço, não dá para comparar”, explica Patrícia. “O consumidor não necessariamente vai escolher entre uma plataforma e outra. O mercado de consumo de conteúdo em vídeo, mesmo que de baixa qualidade, é muito grande. O brasileiro vai adquirir.”

Para Carolina Vargas, do grupo Stenna, outras plataformas, especialmente a Netflix, têm uma atualização de conteúdo mais frequente que a Disney, o que pode ser um diferencial na concorrência. “A Disney tem o mesmo conteúdo há tantos anos. Qual é o ‘refresh’? São conteúdos maravilhosos, mas caríssimos… Star Wars já deu… vai ter lá também, claro, mas e aí? Fora os fãs eufóricos, tem outra ponta. Pelo nosso trabalho que vem de tempos com a Ancine e as TVs por assinatura contra pirataria, acredito que a massa do consumidor brasileiro não vai pagar por outra plataforma.”

“A Netflix fez uma boa retomada de conteúdo internacional, com produções coreanas, indianas, que fazem sucesso por aqui também”, continua. “Não é fácil se manter no streaming vendendo direto para o consumidor final. Nesse sentido, acredito que entre ter algo específico para a criança e algo que pode atingir toda a família, o consumidor prefere pagar os R$ 21,90 para atingir toda a família.”

A própria Netflix, porém, admite a concorrência pesada que já existe (nos EUA) e que vem por aí. Em uma entrevista recente ao The Hollywood Reporter, o co-CEO Reed Hastings disse que a empresa quer bater a Disney em animações para a família. “Isso vai demorar um pouco”, afirmou.

Concorrência: Para Rafael Pallarés, do IAB Brasil e da Magnite (plataforma global de tecnologia que facilita a venda de publicidade digital em diversos meios), o que é inexorável é a migração para o ambiente do streaming. “Isso afeta todas as gerações, é uma tendência de consumo não só de conteúdo por demanda, mas existe também uma procura pelo ao vivo.”

“O Disney+ tem uma referência no streaming que é a trajetória da Netflix. Na Disney, o DNA do negócio não é só diversão, mas entretenimento em geral. Quem inventou o primeiro case de entretenimento de marca de sucesso foi ele. Já a HBO explicou ao mundo o que deveria ser a TV, em questão de linguagem. A melhor experiência de consumo, não importa o gênero, ainda é a Apple. O Prime Video, percebemos que ainda tem o que evoluir. Ainda não parece ser da Amazon, até na combustão de produção de conteúdo, relativamente lenta.”

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Fonte: https://istoe.com.br/

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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