Mesmo com as crianças cada vez mais ligadas nas telas e videogames, os jogos de tabuleiro, cartas, carrinhos e bonecas continuam presentes nas rodas de brincadeiras. Os ícones da Mattel – Barbie, Hot Wheels e Uno – fizeram o pandêmico 2020 ser menos traumático para a empresa.
O faturamento no ano passado foi de US$ 4,5 bilhões (2% acima do resultado de 2019). “Mostra a prioridade que os pais dão a brinquedos de qualidade e marcas confiáveis”, afirmou o CEO mundial, Ynon Kreiz. Apesar da variação apertada da receita, no Ebitda ajustado a alta foi de 59% (US$ 719 milhões sobre US$ 453,1 milhões de 2019).
No comando da companhia há três anos, Kreiz deu a volta por cima em 2020. No início do ano, de janeiro a março de 2020, o faturamento teve uma queda de 42% em relação ao mesmo trimestre anterior. Mas aí veio a virada, que se consolidou no quarto trimestre. Entre outubro e dezembro, as receitas somaram US$ 1,625 bilhão sobre US$ 1,474 bilhão de 2019, alta de 10% Mesmo com a vitória, a quarta maior companhia do mundo no segmento – atrás da dinamarquesa Lego (receita de US$ 6,9 bilhões em 2020), da japonesa Bandai (US$ 6,7 bilhões) e da conterrânea Hasbro (US$ 5,4 bilhões) –, a Mattel prevê que a temporada de desafios não terminou. Um deles, externo: a concorrência cada vez mais veloz. O outro, interno: conciliar a aceleração da produção com a redução dos custos.
Até porque os resultados americanos não se repetiram fora. Na região, as vendas ano a ano cresceram 7%, enquanto as vendas nos demais mercados internacionais caíram 4%. Na América Latina o tombo foi ainda maior: -19,5%, de US$ 565,4 milhões (2019) para US$ 455,2 milhões (2020). Os números do Brasil não são destacados, mas como principal mercado na região devem ter colaborado para a queda.
Porém, como um todo, o mercado nacional cresceu de brinquedos cresceu. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) calcula crescimento de 3% na receita de 2020, para R$ 7,5 bilhões. Independentemente do share local, globalmente um nome pode ser creditado como o condutor da Mattel na travessia de 2020: Barbie. Com uma boneca vendida a cada três segundos, ela cresceu 16% – no mercado americano a elevação foi de 26%. Sozinha, colocou US$ 1,3 bilhão nos caixas da companhia, o que equivale a todo o mercado brasileiro de brinquedos.
DESAFIO
No desenho estratégico da empresa, no curto prazo a Mattel prevê otimizar as operações e acelerar o crescimento da linha de produtos focando nas principais marcas da companhia e expandindo o portfólio disponível. A médio e longo prazo, o plano da companhia é ampliar o gerenciamento de franquias e varejo on-line. Sua receita é fortemente dependente de três players – Amazon, Target e Walmart –, responsáveis por 47% das vendas globalmente. Kreiz sabe que os desafios não são pequenos.
Internamente, o programa Otimizando para o Crescimento, é voltado para impulsionar a produtividade e reduzir os custos. Ele tem como objetivo gerar uma economia de US$ 250 milhões em 2023. A unidade no Canadá é a mais recente a paralisar a produção para se readequar. Em 2019, três fábricas (China, Indonésia e México) também tiveram a produção interrompida para voltar com redução de custos. O segundo grande desafio da empresa é a concorrência. Com 75 anos, a fabricante assume que “nem sempre é capaz de identificar tendências nas preferências do consumidor em tempo hábil”. O relatório financeiro sobre os resultados de 2020 aponta que esses fatores “podem fazer com que os negócios, condição financeira e resultados operacionais sejam adversamente afetados”. Faz parte do jogo. E a Mattel sabe que não se trata de brincadeira.
Fonte: Isto É Dinheiro