Mercado brinquedeiro está otimista com as vendas de Dia das Crianças

Presidente da Abrinq e da Brinquedos Estrela dividiram as expectativas do setor

Por Jéssica Lima, do EP Grupo

O mercado de brinquedos aguarda com ansiedade e otimismo pelos três últimos meses do ano, período que concentra o maior volume de vendas do setor graças ao Dia das Crianças, Black Friday e Natal.

Na última segunda-feira, 8, Marici Ferreira, CEO do EP Grupo, conversou com Synésio Batista, presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) e com Carlos Tilkian, presidente da Brinquedos Estrela, que falaram sobre as adaptações do mercado desde que a pandemia se instaurou no país e as previsões de como vai ser o processo de retomada da economia.

Synesio Batista (à esquerda) e Carlos Tilkian. Crédito: Reprodução

“Temos a felicidade de estar em um setor que basicamente depende do último trimestre. Estamos falando de Dia das Crianças, Black Friday e Natal. Isso nos dá tempo de esperar que a sociedade consiga aprender esse novo normal, e que as autoridades brasileiras de saúde consigam um rápido controle da doença para que isso dê um pouco mais de confiança às pessoas.”

Para Batista, este vai ser um dos melhores Dia das Crianças dos últimos tempos. “Nesse período de pandemia, vamos combinar, as crianças não receberam todos os brinquedos que precisavam. Tem criança que está no vale-brinquedo de aniversário. Então acho que vai ter uma corrida grande às lojas. Precisávamos até diluir o mês de outubro para não concentrar nos dias 9, 10 e 11. Porque se todo mundo for comprar nessa data, nesse modelo de entrar pouca gente por vez na loja, pode acabar atrapalhando os negócios. Mas acho de verdade que não tem para ninguém. É o nosso ano”, disse.

A estratégia da Estrela foi adequar 90% de sua coleção para ser vendida aos consumidores com preços abaixo de R$ 100, nesse momento em que pessoas perderam emprego e autônomos ainda vão demorar um tempo para atingir a renda pré pandemia.

Estratégia

Em meados de março, quando o cenário ficou melhor delineado, com o isolamento social e o fechamento das escolas, a primeira preocupação da Brinquedos Estrela foi desenvolver uma estratégia que preservasse os empregos.

“Temos três unidades industriais aqui no Brasil e fizemos uma adequação para que todos tivessem o emprego garantido. Trabalhamos com o conceito de priorizar alguns produtos que já nos pareciam ter uma melhor aceitação e estreitamos ainda mais os laços com as empresas de e-commerce, onde começou rapidamente a ter um aumento significativo de vendas”, contou Tilkian. Isso manteve as fábricas funcionando.

A procura por jogos de família, tabuleiro, ação e quebra-cabeça também fez os fluxos financeiro, de produção e abastecimento do mercado se manterem minimamente. Além disso, os comércios de alguns estados já estão reabrindo gradualmente. Tilkian diz ter ciência de que os consumidores não vão poder entrar correndo e que é um processo.

Hoje, segundo o presidente da Abrinq, todas as fábricas de brinquedos já voltaram a funcionar, mas ainda não está estabelecido qual será o novo normal para o brinquedo. Apesar disso, ele acredita que ocorrerá um “baby boom” pós pandemia.

E-commerce

No e-commerce, a categoria Brinquedos e Jogos chegou a registrar aumento de 434,70% entre 1º de março e 25 de abril, de acordo com um estudo feito pela Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) e a Konduto, especialista em risco e prevenção à fraude.

“A capacidade de reação [do setor de brinquedos] e adaptação é muito rápida. Muitas lojas e redes estavam estocadas para este período e depois as lojas fecharam. Portanto, mercadoria tem. Do nosso lado, da fabricação, a produção estava rodando, então nenhum e-commerce reclamou de falta. Claro que é um jeito novo, não acho que brinquedo vai virar um negócio para fazer no e-commerce, mas acho que algumas linhas vão se fixar e se fortalecer ali”, prevê Batista.

Tilkian acredita que o aumento de vendas pelo comércio eletrônico se deve porque a base era pequena e foi a forma que o setor encontrou de dar uma resposta rápida. “Nós somos um setor que ainda depende muito da criança, das famílias irem às lojas físicas. É claro que a medida que isso não pode ocorrer, em função da pandemia, muitas empresas de varejo e até indústrias se organizaram de uma forma muito rápida para conseguir fazer com que seus produtos chegassem aos consumidores.”

Mesmo assim, o foco da indústria não deve ser o varejo para não concorrer diretamente com seus clientes. “Uma das grandes características da compra on-line é fazer o monitoramento de preço. Então não faz o menor sentido a indústria querer vender direto para o consumidor. Para que isso ocorra, ela tem que ficar puxando preço, ou seja, acaba concorrendo com seus principais clientes”, explicou o presidente da Estrela.

A empresa lança e vende por e-commerce itens de sua coleção vintage, que a cada ano ganha dois ou três produtos. Afinal, como Tilkian mesmo lembra, uma empresa com 83 anos de mercado marcou muitas gerações e isso acabou sendo seu core business do mercado eletrônico.

Reabertura

Quando a pandemia passar, Batista já adianta que as coisas não estarão “lindas e maravilhosas”. Segundo ele, “muitas indústrias vão estar debilitadas, fragilizadas econômica e industrialmente, e terão funcionários ainda com medo de comparecerem ao trabalho”. Mas ele acredita que o governo vai tomar alguma atitude para ajudar o setor a não quebrar no momento de retomada da economia.

Para o presidente da Estrela, flexibilizar o horário de almoço, diminuir o número de pessoas no refeitório ao mesmo tempo, a obrigatoriedade de trabalhar com luvas, medir a temperatura das pessoas e um cuidado especial com os idosos são ações que não vão mudar mesmo quando o pior da pandemia passar.

A primeira transformação é ligada a higiene e saúde da cadeia como um todo. A segunda é no modelo de se comunicar e interagir com o consumidor. As lojas físicas vão abrir, mas os varejistas precisam encontrar o balanço ideal entre o comércio eletrônico, o pick up (retirada) na loja, na forma de atender e na proteção dos caixas, como hoje já se vê em supermercados e farmácias.

Tilkian reforça que tudo isso vai impactar no modelo de negócio. O que não vai mudar é a necessidade de inovar, de antecipar os anseios das crianças e de procurar manter a categoria de brinquedos como prioridade dentro do lar. “Que nossos produtos cheguem na casa das pessoas, acima de tudo, levando alegria, sonho, fantasia, porque isso nós não podemos perder. Nunca perdemos e não vai ser a pandemia que vai tirar esse brilho do nosso setor”, finalizou.

A conversa pode ser conferida no vídeo abaixo:

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