South by Southwest é um conjunto de festivais de cinema, música e tecnologia que acontece toda primavera em Austin, Texas, Estados Unidos. Este ano ele foi realizado de 16 a 20 de março, de forma online.
Durante o evento foram apresentadas algumas tendências e caminhos em termos de tecnologia, contando com a presença de Melinda Gates, George Bush e Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Institute.
Amy relatou que o ano de 2020 acelerou diversas tendências, que ela dividiu em três grandes grupos. O primeiro são as inovações relacionadas ao “you of things” (você das coisas), um paralelo à “internet das coisas”. São os equipamentos que vão operar mais integrados na nossa realidade e que devem substituir o smartphone, como os smartglasses (Amazon Echo Frames, Apple Glasses, Facebook-Ray Ban, em desenvolvimento), anéis conectados (Echo loop e Google) e pulseiras conectadas (Amazon Halo) e fones de ouvido biométricos (Biometric Airpods). Os óculos podem dar acesso à antiga tela do celular nas lentes, a pulseira é capaz de detectar emoção através de batimentos cardíacos; os anéis podem detectar permanentemente níveis de oxigênio no sangue, temperatura etc. Ou seja, aparelhos que coletam dados sobre nosso comportamento e estado de saúde.
Recentemente, a Amazon registrou uma patente para identificar o movimento ultrassônico no nosso pulso. É uma pulseira que permitirá acompanhar se o usuário está inativo e “cutucá-lo” para continuar o trabalho ou, talvez, conectar com um robô para checar velocidade do trabalhador e avaliar produtividade. Esses aparelhos poderiam ser implantados no corpo para controlar pessoas em regimes totalitários, por exemplo. Saiba também que a Neurolink e o Facebook estão desenvolvendo o BCI – Brain Controlled Interfaces: basicamente, o indivíduo poderá pensar em um comando para que a máquina obedeça, sem necessariamente pedir por comando de voz.
Também estão sendo criados aparelhos para melhorar a qualidade do sono. O Ooler reduz a sua temperatura enquanto você dorme, o que promove um sono mais profundo. O lençol esquenta a cama até você dormir e vai baixando a temperatura para que o sono fique mais profundo durante a noite. O Somonex é uma almofada-robô que simula a presença de outra pessoa na cama. Esses aparelhos são capazes de fazer checagens biométricas do seu corpo para avaliar seu estado de saúde, mas podem ajustar seu batimento cardíaco para um sono mais profundo.
Podemos perceber que maior parte dos dispositivos que estão sendo criados são da área da saúde. Confira mais alguns: O Lumen é tipo um cigarro eletrônico feito para assoprar. Ele checa seu metabolismo para detectar se você precisa de mais água, mais carboidrato ou o que falta no seu corpo. A Toto – Life anew é uma privada conectada que, acredite, é capaz de fazer um exame de fezes ou urina a cada vez que você vai ao banheiro – e claro, alimentar o computador com dados sobre qual o tipo de alimentos você ingeriu ao longo do dia. A Genican é uma espécie de scanner para instalar no lixo que comanda automaticamente pedidos de produtos que são descartados – mas também te alerta se você não tiver reciclando o lixo apropriadamente, por exemplo. Interessante observar que esses dispositivos voltados para saúde são fabricados pelas mesmas Big Techs que conhecemos hoje: os americanos Apple, Facebook, Google, Microsoft ou pelos chineses Baidu, Alibaba, Tencent.
O segundo grupo de tendências está relacionado à realidade expandida (XR). Além dos já conhecidos termos “realidade virtual” e “aumentada”, Amy Webb apresentou dois novos conceitos: a realidade assistida e a realidade diminuída. Um exemplo de realidade assistida seria o GPS, que usamos no carro ou telefone. Porém há casos como o “the mosquito”, uma caixa de som instalada em parques públicos que emitem sons em uma determinada frequência que apenas jovens conseguem perceber.
A realidade diminuída é o inverso da realidade aumentada, ela retira elementos da nossa realidade. Um exemplo conhecido são os fones de ouvido capazes de cancelar o som externo. Hoje já existem janelas de casas capazes de cancelar totalmente o som exterior, alterando ondas de frequências sonoras. Nessa mesma linha, aplicativos já são capazes de retirar do seu campo visual elementos indesejados. Quando os óculos conectados forem uma realidade, possivelmente vão permitir tirar objetos do mundo real: lixo na rua, por exemplo. Você poderá “apagar” aquela pessoa da mesa do lado no restaurante que está falando alto e atrapalhando seu jantar.
Nessa linha de diferentes realidades, a mídia sintética também é algo que está se desenvolvendo muito rápido. Hoje é muito fácil criar uma pessoa que não existe, reproduzir você mesmo, treinar essa pessoa a ser você mesmo. Synthesia, por exemplo, é uma empresa que permite que cada um desenvolva sua própria versão de inteligência artificial; um outro “você” sintético que aprende e se desenvolve.
O terceiro grupo de tendências constata que o ano de 2020 criou uma nova desordem mundial. A pandemia fez com que aceitássemos menos privacidade quando drones foram colocados na rua em várias cidades para inspecionar se as pessoas estavam circulando e sem máscara, por exemplo. Alguns locais, como Connecticut, nos Estados Unidos, instalaram sensores que capturam indivíduos com febre à distância. Estes equipamentos seguirão invadindo a privacidade dos cidadãos. Em Israel, por exemplo, você só pode ir a um restaurante ou frequentar shows se tiver o registro de vacinação. Se por alguma razão você resolveu não tomar vacina, está praticamente banido da convivência em sociedade.
Esse período acelerou o desenvolvimento da biologia sintética. Agora sabemos que é possível ler genomas, adicionar dados genéticos e, mais importante, escrever novos códigos genéticos para organismos vivos. As vacinas de COVID-19 desenvolvidas nos Estados Unidos não têm partes do vírus, mas inserem o código genético no seu organismo, o que permite você desenvolver a defesa necessária. A tecnologia avançou a ponto de já ter desenvolvido impressoras de códigos genéticos (BioXP 3250 system). Com isso, poderíamos mandar o código genético de uma maçã para marte, imprimir na impressora em outro planeta e plantar uma árvore. Esta tecnologia pode representar a revolução das vacinas, mas também a cura de doenças complexas, como o câncer.
Amy Webb trouxe em sua apresentação tanto cenários distópicos quanto utópicos. Ela reforça que não faz previsões, pois o futuro depende exclusivamente das decisões que a sociedade irá tomar no presente. Por isso é fundamental que as pessoas, as empresas e os governos estejam abertos a fazer perguntas constantemente, não apenas no sentido de buscar respostas, mas principalmente para imaginar quais são as possibilidades que se apresentam no horizonte. O resultado da pesquisa do Future Today Institute está disponível aqui: http://bit.ly/SX2021.
Fonte: Teletime
Artigo original: Fabio de Sa Cesnik