Falando sobre comportamento
Se formos comparar uma criança de 3 anos há 10 anos e uma criança de 3 anos hoje, teremos grandes surpresas. Bom, mas isso não me parece novidade. O que pode surpreender são as principais mudanças que aconteceram ao longo desses anos.
Em pesquisa realizada pela Play, com mães de crianças de 3 até 5 anos de idade, fase na qual são denominadas Crianscentes (sim, aqui temos a primeira adolescência da infância), conseguimos perceber algumas mudanças. A pesquisa teve uma base comparativa avaliando como era uma criança da geração Y – aquelas nascidas entre 1980 e 1995 – aos 5 anos de idade e uma criança hoje com até 5 anos.
Alguns pontos foram avaliados:
1. Quem era a referência de comportamento até os 5 anos de idade?
Resposta da geração Y: Os pais.
Resposta dos crianscentes: Os pais ainda, mas também o grupo e, claro, os personagens.
O que mudou?
Os pais deixaram de ser a única referência das crianças, dando espaço para o grupo, uma vez que hoje começam a frequentar desde muito cedo a escola. Com isso, elas têm a influência dos colegas e até mesmo de seus cuidadores. Sem contar que, quanto mais cedo a criança recebe estímulos, mais cedo ela começa a se relacionar com o universo de oportunidades. Aqui entram também os personagens, que engajam e geram identificação.
2. Quando a criança começava a construir suas verdades?
Resposta da geração Y: A partir dos 5 anos de idade.
Resposta dos crianscentes: A partir da sua diversidade de contatos.
O que mudou?
Socialmente a criança tinha como regra entrar na escola a partir dos 5 anos de idade, quando iniciava a preparação da alfabetização. Atualmente, o ingresso se dá antes de 1 ano de idade, muitas vezes, com 5 ou 6 meses, o que estimula ainda mais o convívio social e as projeções desta criança.
3. Como eram divididas as brincadeiras?
Resposta da geração Y: Por gênero (meninos e meninas).
Resposta dos crianscentes: Por interesse.
O que mudou?
Nessa fase, a criança não entende muito a diferença de gêneros, sendo que para ela é natural se relacionar, brincar e aprender, sem levar em consideração essa distinção. Antigamente existia uma imposição maior da sociedade – não que hoje não exista, mas a criança já consegue lidar melhor com o não e com as diferenças quando o assunto são brincadeiras. Principalmente pelo estímulo da escola que favorece que essa fase seja de experimentação e descoberta e que todos podem ser e brincar com o que quiserem.
Isso acaba abrindo uma oportunidade maior em várias categorias de produto em que o gênero cede espaço para o grupo de interesses.
Sem contar que essa é a fase da busca pela autonomia. Não que eles já consigam fazer todas as coisas sozinhos, mas existe um desejo e, aqui, está a grande oportunidade de pensar em produtos e experiências com os quais as crianças tenham autonomia, podendo fazer sozinhas, pois esse é o grande driver dessa fase.
A fase crianscente é de total valorização do conhecimento, das descobertas, dos porquês. É uma fase marcada por aprendizados, mas engana-se quem acredita que apenas eles aprendem. Todos passam por constantes aprendizados tendo crianças nessa fase por perto – desde os pais, que aprendem a lidar com diversas situações, até a escola e a sociedade, que passa por um grande processo de transformações e mudanças, adaptando-se a essa nova geração disposta a mudar o mundo… Esperamos que para melhor!
Ana Amélia De Cesaro e Aurélia Picoli, sócias-diretora da Play Pesquisa e Conteúdo Inteligente. Empresa de pesquisa e conteúdo especializado em crianças, adolescentes, jovens adultos e famílias.
Fonte: Revista Zero a Três #44 [EP Grupo] – Coluna Falando sobre Comportamento.